Tapete da sala
Entre o linho das minhas camisas e o sujo dos meus sapatos, está ele, o tapete da sala...
Entre e contemple a minha insônia inesperada companheira. Venha e traga vaga luz ao meu espectro negro, chute meus livros e meus móveis, rasgue minha caderneta de poupança e meu crachá, pois, amanhã não irei ao trabalho, passarei meus dias reconstruindo meu imundo ciclo de insanidades.
Dê-me a mão. Sente-se. Falaremos sobre a vida das lagostas, sobre o amor dos astronautas, sobre o nosso íntimo...
Falaremos de como aos quinze transamos pela primeira vez e de como o sexo parecia ter sentido...
Tua boca em meu pênis era tranquila... Há tempos não lembrava disso...
Há tempos não lembrava que para nós um cigarro era motivo de morte e uma faísca de amor não representava tanto, pois, com garrafas de cervejas nas mãos não nos sentíamos tão sós a ponto de lembrar do amor...
Quando ainda éramos nós mesmos seguíamos o poeta que disse: “o amor é o ridículo da vida”. Sempre repetíamos isso quando o sexo era indispensável para os nossos corpos. Seus gritos de dor e prazer diziam: “o amor é o ridículo da vida, o amor é o ridículo da vida”, até que eu terminasse e caísse de sono e de álcool...
Mas agora bem longe disso, minha linda companheira inesperada, já me importa o calor do mundo, já me importa as besteiras da televisão, já me importa que tudo esteja no lugar...
Mesmo que eu queira voltar a ser adolescente e foder com tudo que tenho, já não conseguirei ejacular no teu corpo, nem bater na tua bunda sem perguntar se te machuquei. Fui castrado pelo tempo.
Agora sou garotinho da mamãe, que lava a louça, paga as contas e deixa tudo arrumadinho...
E antes de você sair e me deixar morrendo minuto a minuto limpe o tapete da sala e feche a porta.